segunda-feira, abril 30, 2007

EURIDICE ए ORFEU


Orfeu e Eurídice




Orfeu é o símbolo magistral da delicadeza, da habilidade em encantar as pessoas, de envolver a natureza, de satisfazer os deuses. Graças aos acordes graciosos com que toca a lira, o poeta da harmonia, rompe a indiferença e doma o impulso das feras e acalenta a esperança da liberdade.
Orfeu apaixona-se por Eurídice, a doce amada, com rosto delicado e passo tímido, transmite serenidade á Orfeu. O casal convidou Himeneu deus protetor dos casamentos, para abençoar as núpcias. O imortal sente a angústia, de que aquela alegria duraria muito pouco, Orfeu conheceria em breve a dor do luto. Himeneu não tem coragem de permanecer no local, ou comunicar a realidade, envolto em seu manto amarelo, segue para a morada divina. Orfeu grita para que permaneça na festa, Himeneu não podendo recusar permanece, contendo a dor de ver a proximidade da separação dos eternos apaixonados.
A festa finaliza, o sol se põe, os convidados se retiram, Himeneu parte, desta vez para sua morada. Orfeu repousa aguardando a hora de possuir Eurídice. Ela corre nos campos, está transbordando de felicidade, seu amado descansa em breve compartilharão do mesmo leito. Eurídice sente a noite muito quente, despe-se e mergulha seu corpo virgem no lago límpido. Aristeu, o caçador a vê, sente o desejo violento de a possuí-la, sabe do casamento e da fidelidade que Eurídice dedica ao marido, tenta tê-la pela força. Temendo ser violada foge. Contudo na noite escura esconde-se nas árvores uma serpente, que sinistramente a atingi num bote fatal. A dor no pé atingido e a antevisão da morte faz gritar, enlouquecida. Eurídice, caminha rumo ao mundo dos mortos, estará na residência eterna sobre o império dos deus Hades e Perséfone, sua esposa. Orfeu não consegue viver sem sua amada, Orfeu descerá aos subterrâneos da dor.
Tenta ressuscitar a querida Eurídice, tenta cantar, mas o som não sai da garganta, aquece com os lábios o peito frio, fala doces palavras de amor, nada pode trazê-la de volta. Eurídice penetra o mundo dos mortos, sente a dor da ferida, ela precisa se acostumar a este novo mundo, onde há escuridão e tortura dos mortos. Chora de saudade do amado.
Orfeu deve empreender a viajem de busca de Eurídice, descer a nova pátria dela. Orfeu, canta na floresta, as pedras, os rios, as feras comovem-se com a angústia que provém dele, as cascatas param e as águas congelam, quando Orfeu inicia sua viajem.
O poeta caminhou muitos dias e noites em florestas e encostas íngremes. Sua voz fraca e o luto amargo, comprometiam a comunicação com as pessoas.
Orfeu atinge a entrada dos infernos, a gruta que fica ao pé do monte Tênaro, afasta-se da luz e penetra as sombras . Mergulha acompanhado pela paixão, que sente por Eurídice, a trilha é repleta de frio e silêncio. Orfeu canta na solidão, avista o rio Estige, uma lama imunda, com um desagradável odor. As margens deste rio somente flores sepulcrais e raízes secas, como cabelos de mortos. Orfeu chora de compaixão. Enfrenta o monstruoso cão Cérbero, com varias cabeças, que guarda a porta de entrada deste mundo de sombras.
Ao avistar o barqueiro Caronte , condutor de almas, Orfeu pede que o transporte em busca da amada, ele prontamente nega tal pedido, alegando não conduzir vivos. Orfeu não contesta, entoa melodias de amor com sua flauta. O barqueiro deixa-se levar em recordações de quando passeava pela superfície da terra. Abre os braços e o riso, que a séculos não acontecia, resolve acolhê-lo e levá-lo as profundezas do reino dos mortos. Orfeu esbarra em sombras e vozes geladas, mas ele esta determinado a falar com os imperadores deste mundo Hades e Perséfone. Ao vê-los, toma a lira tremendo e canta o amor. Canta a vitória do amor, tentou aceitar a morte de Eurídice, mas esta tentativa não foi possível, suplica a volta da amada, deixa claro que se isto não acontecer, ele prefere morrer junto da esposa. Aquele mundo é iluminado, pelas lágrimas que retira das almas que ouvem seu cantar. Todos que estão presos a comportamentos repetitivos, expiando penas e sofrimentos, saem destes círculos viciosos, agora tudo é compaixão e amor.
Emocionados, os deuses Hades e Prosérpina, chamam Eurídice para entrega-la ao poeta, ela vem abatida e ferida, mas ao ver o esposo um sorriso ilumina seu rosto.
Eurídice deseja abraçar o marido, mas seus braços devem recuar, os deuses não consentem, tal entrelaçamento. Apenas admitem a partida dela, ao lado do esposo. Perséfone adverte, Orfeu deverá ir na frente da amada, sem olhar para o rosto da mulher que tanto ama, durante o percurso no mundo dos mortos, até a entrada no mundo da superfície. Caso contrário Eurídice retornará as sombras.
Orfeu segue a frente da amada cantando , ciente de que a esta alegrando. Caronte o barqueiro atravessa os apaixonados, um de cada vez. O desejo de olharem é grande, contudo é preciso resistir falta pouco.
No final, o poeta cede ao desejo, olha para amada, quando então assiste sua esposa perder-se na sombra chorosa, voltar para o mundo dos mortos.
Orfeu tenta implorar a Caronte , que a traga de volta, ou mesmo cantar a melodia do amor, mas nada adianta. Orfeu perdeu seu amor, volta a superfície, entristecido e solitário. Fundará mais tarde uma religião, O ORFISMO. As Bacantes tentam seduzi-lo, mas ele resiste conservando a paixão pela amada Eurídice. A fidelidade é experimentada em Orfeu como uma forma de conservar o encanto pela amada.
As Bacantes enfurecidas pela negativa de Orfeu, para a entrega amorosa, rasgam suas roupas e cortam o corpo do poeta, enfim o poeta esta livre, para a morada eterna e o encontro com Eurídice a mulher amada. Desta forma pode cantar o amor que transcendeu a morte.
INTERPRETAÇÃO:
O Mito de Orfeu, descreve a união do principio masculino ao feminino. Casamento é símbolo de INTEGRAÇÃO, a celebração é efetivada, a integração ocorreu no desejo, na promessa, no propósito. Contudo falta a concretização da integração, que se dará na noite de núpcias. Algo esta comprometendo este casamento, Aristeu encerra o simbolismo da impulsividade, da caça, do predador. Muitas vezes na vida desviamo-nos do nosso sentido, do nosso eixo, no afã de buscar outros caminhos que não o nosso, atrapalhando a sintonia com nosso Ser. Aristeu a representação do desvio, persegue Euridece, que atônita, é mordida pôr uma cobra, símbolo do fatores obscuros da psique, irregulares. A cobra atinge o pé de Euridece, nossa heroína na senda da integração. Édipo, Aquiles, e outros heróis foram atingidos nos pés, confirma-se a missão heróica de Euridece na busca do UNO, da INDIVIDUAÇÃO.
A nossa heroína deverá penetrar o inconsciente, a sombra. Himeneu tratá-a como mulher, confirma sua existência adulta, representa a força instintiva, natural, Himeneu desta maneira possibilita o inicio da viajem ao inconsciente. A liberação do principio masculino personalizado em Orfeu é o passo seguinte. Orfeu encarna o princípio masculino altamente burilado, através do canto ,encanta e contagia os imortais. Consciente e ativo distingue o momento certo de utilizar a chave do encantamento, para propiciar a liberação da amada. Atravessa o portal do barqueiro Caronte e atinge o mundo Transcendental. Estabelece o encontro com as divindades maiores, HADES E PERSÉFONE, O CASAL SAGRADO, representação da totalidade. Orfeu é admirado na sua arte pelas divindades, de nada adiantaria a imposição, ou mesmo a submissão com eles. Apenas a delicadeza e a sabedoria do encanto, desta maneira sagra-se vitorioso, poderá seguir com sua doce amada, contudo não deve olhar para seu rosto, enquanto estiver no inconsciente simbólico, ou seja a força da integração deve ser efetivada gradualmente, a luz muito intensa ofusca e faz cegar. A antecipação do momento de conscientização, provoca exacerbação de resistências com a constante, volta ao inconsciente, perdendo-se a oportunidade da integração. No mito adia-se a integração no mirar de Orfeu a linda Eurídice.
Orfeu o princípio masculino ativo estabelece a religião Órfica como forma de reparação, uma vez , que esta era reencarnacionista, admite a possibilidade de uma nova oportunidade para resgatar o amor perdido. A religião como religação ao Sagrado interno que é o Si mesmo. Orfeu deverá morrer casto e fiel, para reencontrar-se com Eurídice. Aqui mais um símbolo a castidade de Orfeu não se prende a um moralismo, mas como forma de preservar o encanto que sente pela doce amada. Esta fidelidade, representação da persistência e tenacidade, que o homem deve cultivar na busca de seus objetivos e metas. A individuação exige esta disciplina para o encontro interno do homem consigo próprio. As bacantes irão criar um ritual de morte, a superação do desejo humano, fugaz no encontro de camadas mais profundas do ser. Agora sim, Orfeu reencontra Eurídice, a integração se faz presente. Foi preciso o aprendizado de estar consigo próprio, a elaboração da perda de Eurídice, a busca da religião como religação consigo mesmo, o rito de transcender o externo, para entrar novamente no portal da INTEGRAÇÃO. Morte como transformação de estágios de consciência. Não é o feminino, que havia penetrado no inconsciente, amadurecido na experiência de Aristeu que deve voltar, mas sim Orfeu que deve crescer, superando a experiência semelhante de Eurídice com Aristeu, agora Orfeu e as bacantes para efetivamente penetrar no inconsciente. No processo da vida não há caminho de retorno de níveis de consciência , ou seja o voltar para atrás. Enfim não é Eurídice que volta, mas sim Orfeu que deverá ir , na condição de transformado, simbolicamente morto.
A psicoterapia expressa-se também neste mito, como , busca de integração do homem, Orfeu, representa nesta perspectiva o terapeuta, para vencer as resistências precisa conhecer a arte do encantamento, a arte lírica do respeito, para com o outro, a empatia. Assim conseguirá seu objetivo de aproximar-se do cliente verdadeiramente, ultrapassando as resistências personificadas no barqueiro Caronte no cão Cérbero, as divindades até atingir o centro interno de seu cliente. Contudo não deve ultrapassar o ritmo do cliente estampando em seu rosto verdades de si mesmo além do suportável, ou provocará um fechamento, para o trabalho de ajuda. O rosto é o que identifica é necessário saber o momento que o cliente esta com condições psicológicas de trabalhar certos aspectos centrais de sua personalidade que o identificam.
Este mito nos fala muito da força do tempo , do momento oportuno para a conscientização, do valor da experiência lírica, como agente de transformação....



Alexandre Rivero

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